"Foi num dia igualzinho a este que nasceste. Estava este calor seco e não corria uma única brisa.", ía dizendo a avó enquanto Santiago se sentava perto dela, no mocho que tinha trazido da cozinha. O cão Pulgas, percebendo que o dono não estava para aventuras, deitou-se prazenteiramente aos pés de Santiago que lhe ía acariciando as longas orelhas castanhas. Era uma tarde de Domingo e Nha Maria e o neto estavam sentados à porta de casa, aproveitando a sombra que batia ali sempre por essa altura do dia. As pessoas que íam passando, paravam e cumprimentavam Nha Maria, perguntando-lhe pela saúde e família, acabando, invarialmente, a conversa dizendo: "Mas este é o seu neto? Cada vez mais parecido com o pai!".
Nha Maria adorava contar estórias e Santiago era um excelente ouvinte, sempre de olhos arregalados, narinas dilatadas e de lábios entreabertos como se assim conseguisse absorver melhor todos os detalhes do que ela estava a contar. Mas ele não era o único ouvinte atento porque as crianças da redondeza sentavam-se à volta para ouvi-la contar as estórias que já tinham sido repetidas vezes sem conta mas que pareciam sempre novas porque ela mudava sempre um pormenor, omitia outro e realçava ainda um outro diferente. Mas assim que Santiago chamava a avó a atenção para o facto de estar a haver uma alteração, ela, com uma expressão séria mas de olhar brilhante e risonho, dizia: "Afinal? Quem é que está a contar a estória aqui?".
"Estás muito quieto, Santiago. Na volta, estás doente.", disse a avó, tentando espicaçar o neto, percebendo que a estória do nascimento dele e do porquê de se chamar Santiago não ía pegar. Santiago andava taciturno nos últimos dias e a avó tentava que ele se abrisse. Como o menino continuava calado, ela fez um compasso de espera e falou novamente como se estivesse a pensar em voz alta: "Se calhar, vou fazer doce de mancarra logo mais. Só que preciso de um ajudante... Mas se estás a sentir-te doente... fica para a próxima, não é, meu neto?" Santiago sorriu, contudo os olhos ainda de expressão melancólica, dizendo: "Não estou nada doente, avó!" "Então porque andas assim muito caladinho?", questionou Nha Maria. Santiago hesitou, suspirou e disse "Mas a avó não vai dizer a ninguém?" "Claro que não! Ninguém sabe das minhas conversas com o meu neto. Só se o Pulgas aqui falar." Santiago riu, dizendo: "Mas os cães não falam, avó!" Nha Maria, mulher vivida e conhecedora do comportamento humano, compreendeu que o neto iria finalmente partilhar com ela o que tanto o preocupava. "Avó, a mãe vai fazer anos e ... é assim ... eu quero muito oferecer-lhe algo bonito, grande e que ela nunca tenha tido... mas só tenho 200 escudos comigo. Tenho andado a juntar o meu dinheiro mas não vou conseguir nunca o que preciso para poder oferecer-lhe uma prenda linda!" E os olhos do menino brilhavam, as lágrimas contidas, os lábios tremendo.
Nha Maria adorava contar estórias e Santiago era um excelente ouvinte, sempre de olhos arregalados, narinas dilatadas e de lábios entreabertos como se assim conseguisse absorver melhor todos os detalhes do que ela estava a contar. Mas ele não era o único ouvinte atento porque as crianças da redondeza sentavam-se à volta para ouvi-la contar as estórias que já tinham sido repetidas vezes sem conta mas que pareciam sempre novas porque ela mudava sempre um pormenor, omitia outro e realçava ainda um outro diferente. Mas assim que Santiago chamava a avó a atenção para o facto de estar a haver uma alteração, ela, com uma expressão séria mas de olhar brilhante e risonho, dizia: "Afinal? Quem é que está a contar a estória aqui?".
"Estás muito quieto, Santiago. Na volta, estás doente.", disse a avó, tentando espicaçar o neto, percebendo que a estória do nascimento dele e do porquê de se chamar Santiago não ía pegar. Santiago andava taciturno nos últimos dias e a avó tentava que ele se abrisse. Como o menino continuava calado, ela fez um compasso de espera e falou novamente como se estivesse a pensar em voz alta: "Se calhar, vou fazer doce de mancarra logo mais. Só que preciso de um ajudante... Mas se estás a sentir-te doente... fica para a próxima, não é, meu neto?" Santiago sorriu, contudo os olhos ainda de expressão melancólica, dizendo: "Não estou nada doente, avó!" "Então porque andas assim muito caladinho?", questionou Nha Maria. Santiago hesitou, suspirou e disse "Mas a avó não vai dizer a ninguém?" "Claro que não! Ninguém sabe das minhas conversas com o meu neto. Só se o Pulgas aqui falar." Santiago riu, dizendo: "Mas os cães não falam, avó!" Nha Maria, mulher vivida e conhecedora do comportamento humano, compreendeu que o neto iria finalmente partilhar com ela o que tanto o preocupava. "Avó, a mãe vai fazer anos e ... é assim ... eu quero muito oferecer-lhe algo bonito, grande e que ela nunca tenha tido... mas só tenho 200 escudos comigo. Tenho andado a juntar o meu dinheiro mas não vou conseguir nunca o que preciso para poder oferecer-lhe uma prenda linda!" E os olhos do menino brilhavam, as lágrimas contidas, os lábios tremendo.
Nha Maria não disse nada. Levantou-se, pegou na mão do neto e entraram em casa. Pulgas levantou a cabeça mas sentindo-se indolente voltou a baixá-la e a adormecer. Foram até ao quarto de Nha Maria que tirou do guarda-fato uma lata. Os olhos de Santiago sorriram e ele sussurou como se estivesse perante um grande tesouro: "Tantas cores diferentes...", quando a avó despejou o conteúdo da lata em cima da cama. Papéis coloridos e de várias qualidades, bocados de vários tipos de tecido, cordas em tons de dourado e prateado faziam um alegre contraste sobre a colcha em crochet de branco imaculado. "E que tal escolhermos as cores que mais gostares e fazermos um belo quadro à tua mãe? Será o nosso segredo. O que dizes?". "Um quadro, avó? ... Sim! E ela pode pôr na sala! Ela não tem dito que a parede por cima do sofá está muito vazia?", disse o menino, dando ares de pessoa entendida em quadros e paredes de sala, porém com o olhar de uma criança de sete anos que já sabia que iria oferecer à sua mãe "algo bonito, grande e que ela nunca tinha tido"!
- Maggs -
2 comments:
tão bonito.
um grande bj.
chegámos agora da Arega. Tou estoirada. A casa estava com pó e eu (c/ tiques de gente fina) estou com rinite alérgica. Pois...
Arega & Cª
Arega & Cª,
Espero que o vosso fim de semana tenha sido maravilhoso!
Sabes, inspiro-me também na relação de cumplicidade que tens com os teus filhos.
Um forte abraço!
Maggyzinha
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