Wednesday, January 28, 2009

Neve

Da sala do meu apartamento

Na Primavera e Verão, a vista da janela da sala é-me tão aprazível: árvores com folhas viçosas, muita relva, pássaros a cantarolar e esquilos em alegre correria. Agora, é a neve e o céu nublado. Há quem adore o Inverno e a neve, contudo a mim provoca-me uma tristeza infinda. Fico tão acabrunhada e recolhida que nem consigo apreciar o seu lado belo. Na verdade, é admirável o branco, contrastando com as cores mais escuras dos edifícios.

Tuesday, January 20, 2009

Esperança

Faltavam uns quinze minutos para o meio-dia quando arrastei o meu colega de gabinete para o auditório do hospital. Convenci-o a acompanhar-me para assistirmos à tomada de posse do 44.º Presidente dos Estados Unidos da América. A sala já estava bem composta, por isso, tivemos que ficar de pé. Valeu a pena porque mais do que presenciar um evento histórico, senti que estava a viver um momento que os Americanos querem/desejam que seja de mudança, de renovação, de transformação.
Se de início fui uma espectadora atenta mas distante, após o empossamento de Barack Obama dei por mim a acompanhar os meus colegas de trabalho num retumbante aplauso de alegria. De seguida, o discurso conciliador aliado à excelente capacidade oratória de Obama, galvanizou a audiência que se comportava como se estivesse em Washington, aplaudindo, rindo, concordando...
Da mensagem do Presidente Obama retive a palavra "Esperança". Contudo, não caiamos no erro fácil de transferir toda a esperança neste Presidente e na sua equipa. Pelo contrário, que cada um tenha esperança em si mesmo. Que cada um acredite em si e naquilo que pode contribuir para a sociedade. Abandonei o auditório com mais esperança em mim própria, com mais determinação para traçar o meu caminho porque se cada um fizer aquilo que sabe melhor, da melhor forma, contribuiremos todos para uma sociedade mais justa.
Há tanta esperança no ar...

Friday, January 02, 2009

Um bilhete

Por fim, as palavras irromperam e uma história foi revelada.


Já te amava ainda antes de te conhecer.
Todas as noites, os meus últimos pensamentos eram para ti.
Chamava por ti, incessantemente, numa prece silenciosa.

Tu...
que eras um desconhecido somente porque os meus olhos ainda nao tinham repousado sobre os teus.
(as minhas mãos ainda nao tinham percorrido as linhas do teu rosto)

Sim...
tu que andavas perdido de mim.
(e eu de ti)

Sentia-te cada vez mais perto.

Quando, finalmente, os nossos olhares se encontraram,
soubemos que não estávamos mais perdidos,
soubemos que começávamos a continuação de uma história.

As mãos dadas, os dedos entrelaçados...


Maggs


ps. resolução de ano novo: juntar "um bilhete" e "de mãos dadas". Sabemos que há uma história que precisa ser contada...

Saciar...

Através da poesia de Miguel Torga, a Maguy-Mãe e a Arega & C.ª cruzaram-se hoje em Detroit. A minha mãe enviou-me um belíssimo poema de Miguel Torga e não resisti em reencaminhá-lo para a Arega & C.ª como resposta a uma mensagem que tinha acabado de receber. E ela respondeu-me com um excerto de outro poema de Miguel Torga. Os dois poemas ressoaram dentro de mim, saciando a minha inquietude... Partilho convosco os poemas:

Recomeça...
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

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"sonho mas não parece, nem quero que pareça, é por dentro que eu gosto
que aconteça a minha vida, íntima, funda, como um sentimento de que
se tem pudor..."


Miguel Torga (1907-1995)
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E... afinal o que nos faz sentir saciados?
Seja a leitura de um texto, seja a observação do que nos rodeia, seja ainda o que o olfacto e o paladar nos oferece, o objecto em apreço só se torna belo, único, excepcional se algo dentro de nós responder positivamente ao estímulo exterior, se sentir saciado nem que seja por alguns instantes.
Todos nós buscamos incessantemente respostas, mesmo para perguntas que ainda não trouxemos para o nosso consciente, e se estivermos atentos, há sempre um texto, uma paisagem, uma refeição, alguma coisa que dá sentido à nossa vida porque houve alguém/algo que nos deu uma resposta para uma inquietação interior.
Por isso, as obras universais não serão aquelas que foram concebidas de dentro para fora, i.e. sem o autor estar centrado sobre si próprio no momento da criação?