Monday, October 29, 2007

Valsa

Ao fundo,
o som dos violinos.

No salão, dançando
Andrei e Natacha.
Na varanda, sorrindo e sonhando
Pedro Bezukov.
No jardim, valsando e rindo
é onde me encontrarão.


- Maggs -

Sunday, October 28, 2007

Dualidade

Penetrante é o teu olhar,
terno se tornando,
ao me veres acabrunhada.

Estendes a tua mão,
o meu queixo levantando,
os nossos olhares se encontrando.

Sorris.
Sorrio.
O espelho mostrando
alguém que (re)conheço
mas que se esconde em mim

... teimosamente.


- Maggs -

Saturday, October 27, 2007

Renascer

As mãos, em concha,
a água fria jorrando,
a face refrescada,
a sede saciada.

Meu amor, não sentes
que já não há amarras?
que navego por outros mares?

Meu amor, não notas
que já não estou mais por perto?
que ganhei asas e sobrevôo outros céus?

A sede voltará, decerto.
Mas não de ti.


- Maggs -

Em mudança

Ainda em Omaha... mas com o pensamento em duas cidades que começam pela letra 'D': Detroit, onde irei trabalhar e Dearborn, onde irei viver. As duas cidades, vizinhas uma da outra, estão no estado do Michigan.
De Detroit, pode-se chegar ao Canadá, atravessando uma ponte e chegando à cidade de Windsor.
Em Dearborn, cidade onde está a sede mundial da empresa automóvel Ford, encontra-se uma grande comunidade de pessoas do Médio Oriente.
No meu futuro local de trabalho, há árabes (libaneses, egípcio), um judeu. Também há um russo, chineses, indiano... claro... americanos.
Vai ser muito enriquecedor viver e trabalhar num ambiente multi-cultural. Haverá tanto para aprender e apreender.

- Maggs -

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Até finais de Novembro, este blog estará em modo intermitente. A mudança é sempre um misto de descoberta e de ansiedade.

Welcome to Detroit

Deixámos Omaha numa tarde cinzenta mas o sol brilhava quando aterrámos no aeroporto internacional de Detroit. Apanhámos um pequeno autocarro para podermos ir buscar o carro alugado. O motorista, senhor dos seus sessenta anos, olhar vivo e curioso, ajudou-nos a colocar a bagagem no autocarro e partimos. Éramos só dois passageiros - o meu chefe e eu. O motorista iniciou a conversa com a pergunta que ele devia repetir vezes sem conta no dia: "De onde vêm?" A resposta do meu chefe levou a que eles falassem sobre o futebol americano e eu calada permaneci. A conversa ía animada entre os dois discutindo futebol, falando sobre as diferenças entre Omaha e Detroit quando o meu chefe esclareceu que nós não éramos de Nebraska e que eu até era de Portugal. O motorista diz em inglês: "A única frase que sei em português é" - e diz em português - "Não sei falar português." Eu fiquei surpreendida, gargalhei e dei-lhe os parabéns. O meu chefe ficou igualmente impressionado. Depois, a conversa generalizou-se pelos três e falámos sobre os descobrimentos e sobre Portugal e Espanha. Este senhor dominava a geografia e a história de uma maneira que me deixou sem palavras. Mas depois ele confessou-nos que era reformado da marinha americana. Então, não resisti e decidi fazer-lhe o teste final: "E já ouviu falar nas Ilhas de Cabo Verde?" Ficou ofendido e disse-me orgulhosamente: "Fica na costa oeste de África!", acrescentando: "E conheço um excelente músico de origem cabo-verdiana que toca jazz!" Dizemos os dois em uníssono: "Horace Silver!" Rimo-nos e o meu chefe só dizia "Extraordinário!" O motorista acrescenta: "Eu sei o nome completo dele. É Horace Ward Martin Tavares Silva." Aí eu disse-lhe que os meus conhecimentos não íam tão longe. Sempre risonho, disse: "Afinal sei duas frases em português!", dizendo em português: "Não sei falar português" e "A canção do meu pai", fazendo referência ao tema que Horace Silver compôs em homenagem ao seu pai, cabo-verdiano de origem. Expliquei-lhe que os meus pais era cabo-verdianos mas que eu tinha nascido em França. Aí ele diz alto e bom som: "Devia casar-me consigo! É muito viajada." Chegámos ao local onde o meu chefe iria buscar o carro. Ajudou-nos novamente com a bagagem. Perguntou-me o meu nome, deu-me um firme aperto de mão e disse: "Eu sou o Robert." Igualmente, cumprimentou o meu chefe e nós agradecemos-lhe o inesquecível diálogo. Ficámos tão bem dispostos, tendo em conta que deixámos uma Omaha cinzenta e de chuva miudinha.
- Maggs -
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Conhecidos meus ao saberem que iria começar a trabalhar em Detroit, descreveram-me uma imagem muito má e não recomendável da cidade, retratando-me zonas de violência provocadas por negros. Este simpático, atencioso e culto motorista é um senhor negro e como me senti feliz que a minha primeira interacção com um nativo da cidade tenha sido assim. Evidentemente, todas as cidades têm o seu lado menos bom e o seu lado encantador. O importante é evitar ideias pré-concebidas para se tirar o melhor partido do que a vida nos proporciona.

Escândalo na cantina

Pedi ao meu amigo Jeffrey uma salada do dia com camarões picantes. A perspectiva de comer camarões picantes aliciara-me. Com o papel do pedido, dirigi-me à menina da caixa, fiz o pagamento, aguardando depois que me chamassem. Algum tempo depois ouvi uma voz da cozinha dizendo: "qual é o molho?" A menina da caixa olhou para mim, sorrindo e perguntou-me: "qual é o molho?" Respondi: "Não quero molho." Ela abriu um pouco os olhos, não comentou e voltou-se para a cozinha: "Ela não quer molho." Da cozinha: "Ela não quer molho?!" A menina, sempre de sorriso nos lábios mas agora com um olhar interrogativo: "Tem a certeza?" E inumerou a lista dos molhos que eu nem me preocupei em compreender os nomes ou mesmo escolher. Sorri de volta, agradeci e disse-lhe que não queria molho. O senhor que costuma entregar as refeições, abanando sempre a cabeça, olhou para mim: "Não quer mesmo molho nenhum?" E depois disse como se tivesse tido uma ideia brilhante: "E não quer um molho sem gordura?". Aí, admito, apeteceu-me dizer-lhes: "O que eu queria mesmo era um bom azeite." Mas achei que correria o sério risco da minha salada ser confiscada e ser, delicadamente, conduzida à saída da cantina.
- Maggs -

Sunday, October 14, 2007

Concha

Ainda a noite reinava,
e a lua brilhava,
quando bati à tua porta.

Vim para te dizer que parti.
Parti, não me quedando mais aqui.
Aqui, onde julgas que és e nada és.
Nada és, na concha perseverando.

Ora o dia surge
e o sol brilha,
e o mundo é mais que esta concha.

- Maggs -

Miragens

Estas vozes, dissonantes
ecoando neste vazio.
Estas mãos, desnorteadas
tacteando um sentido para este vazio.


Estas miragens, incontáveis
apropriando-se de mim, criando este vazio.

Estas miragens, infindas
nada mais que sensações
não vividas de ilusões.


- Maggs -

Friday, October 12, 2007

O Homem e a natureza

Leão Tolstoy, em Yasnaya Polyana

No dia em que o Nobel da Paz foi para as alterações climáticas


"Centenas de milhar de seres humanos tentavam por todos os meios ao seu alcance destruir a terra em que viviam amontoados. Contudo, a despeito de se encarniçarem contra o solo - quer cobrindo-o de pedras para que nada germinasse, quer arrancando as ervas e derrubando as árvores, na ânsia de apagarem o mais pequeno sinal de vegetação, quer ainda escorraçando as aves e os outros animais e saturando a atmosfera com o fumo do carvão e do petróleo -, a Primavera nem mesmo na cidade deixava de impor os seus direitos.
Com efeito, o Sol brilhava ardentemente, a erva voltava a crescer - tanto onde fora arrancada, como por entre as pedras das ruas -, os jardins cobriam-se de espessos tapetes de verdura, os vidoeiros, os álamos e as cerejeiras enchiam-se de folhas tenras e fragrantes, as tílias floresciam, as gralhas, os pardais e os pombos construíam alegremente os seus ninhos e as abelhas e as vespas zumbiam à roda dos muros...
Tudo respirava alegria: as plantas, as aves, os insectos e as crianças. Apenas os homens continuavam a enganar-se e a atormentar-se mutuamente, pois só eles consideravam a ambição e a crueldade mais importantes e sagradas do que a divina beleza do Universo, criada por Deus com o fim de proporcionar ventura a todos os seres e predispô-los para a paz, a bondade e a ternura."

in Ressureição

Thursday, October 11, 2007

Vacina contra a gripe

Ainda a decidir se o dia seria dedicado aos electrões ou aos fotões, oiço a voz de uma das auxiliares de acção médica a apregoar que hoje iria haver vacinação contra a gripe para as pessoas do departamento. Como a minha imaginação gosta de me pregar partidas, comecei a rir-me porque o tom da voz dela e a forma como ela ía passando pelas salas e corredores a repetir a mesma frase, lembrou-me a imagem dos meninos que vendem os jornais, gritando "EXTRA! EXTRA!"
Deixei a física de parte e lá fui tomar a vacina. O local da vacinação foi no próprio departamento, na sala de reuniões. Duas enfermeiras do nosso departamento encarregaram-se disso e cadeiras foram colocadas à porta da sala, para nosso conforto, à medida que preenchíamos um questionário. Também havia rebuçados...
O questionário lá me fazia a pergunta-tabu: qual era o meu número de segurança social! Recebi tantos avisos sobre a importância de eu proteger esse número de olhares alheios e de como a saúde das minhas finanças depende da forma como o guardo que nem o sei de cor, não vá alguém raptar-me e subjugar-me à tortura! Obviamente, deixei essa linha em branco.
Lá recebi a vacina e voltei à física. Devia atacar os electrões mas ando muito embalada com os fotões... Amanhã, é um novo dia e dedicar-me-ei aos electrões.
- Maggs -

Harmonia...

""A palavra é de prata, mas o silêncio é de ouro. O homem nada pode possuir enquanto temer a morte. Só quem não teme a morte é senhor de tudo. Se a dor não existisse, o homem não conheceria os seus limites, não se conheceria a si mesmo. Nada mais difícil", pensava ele, continuando a sonhar, "que cada um saber reunir na sua própria alma o significado de todas as coisas. Reunir tudo? Não, não é essa a palavra. Não é possível unir toda as ideias, mas, sim, pô-las de acordo!", repetia, com uma espécie de entusiasmo interior, como se sentisse que essas palavras, e só elas, exprimiam perfeitamente o que ele queria dizer, resolvendo a questão que o atormentava. "Sim, é preciso pô-las de acordo, é tempo de harmonizar as coisas."
in Guerra & Paz
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Retrato do conde Leão Tolstoy - óleo sobre tela por Mikhail Nesterov.

Wednesday, October 10, 2007

Partida

Não sei...

pressinto que já parti.

Porventura,
parti há muito tempo
mas não me dei conta.

Hoje, o espelho
mostrou-me outra pessoa.
Foi aí que me dei conta
que já tinha partido.

Decerto,
parti há muito tempo
mas não me dei conta.

Não posso continuar aonde não estou.
Principalmente, porque tu é que nunca estiveste aqui.


- Maggs -

A caminhada

Para os meus pais
Para a Arega & Cª
Inspirou vagarosamente. Não havia pressa. Não agora que tinha chegado aonde queria. Expirou, no mesmo ritmo, enquanto o olhar, na mesma cadência respiratória, percorria a paisagem que se desnudava perante ela. Era a natureza que se despia ou era ela que entrava na sua intimidade?
Devagarinho, baixou-se e sentou-se no chão, sentindo-se inebriada com o cheiro da terra-mãe, prenhe de vida. Sorriu, ao notar o estado das solas das suas botas. Estavam gastas! Que longa caminhada tinha sido essa!
Olhou para as suas mãos, tentando apreender a sua vida, o seu percurso até esse momento. Por força da imaginação, essas mãos transformaram-se nas mãos de uma menina:
"Em criança, o que é que eu queria ser quando fosse grande?"
"Sou o que sonhei para mim? Sei que pedi a mim própria estar sempre em transformação - nem que fosse na minha imaginação ou através dela. Não posso parar porque há ainda tanto para ver, para experimentar, para sentir..."
As mãos tornaram-se transparentes e desapareceram porque ela agora estava no útero materno. O seu olhar permaneceu firme e inquisitivo no lugar onde as mãos de criança tinham estado momentos antes.
"E os meus pais? Porque eu iniciei a minha existência ainda antes de nascer, na imaginação deles. Sou o que eles sonharam para mim?"
"Eles ensinaram-me a voar, a continuar a caminhada quando a vontade é parar. Mostraram-me como aquietar esta sede de viver, que é eterna e intensa."
Esta caminhada ainda não tinha acabado. Na verdade, mal tinha começado.
Deitou-se de costas, as mãos - adultas e seguras - servindo de travesseiro e olhou para o céu azul e infinito. Cada olhar, um mundo diferente, uma interpretação própria.
"Será que um dia conseguirei ver a natureza tal qual ela é ou será sempre através do meu olhar, que é cheio de interpretações próprias? Enquanto sentir esta comunhão, a minha visão própria e particular da natureza não deverá estar longe da essência desta terra-mãe, tão prenhe de vida!"
Gargalhou e abriu os braços para o alto. Levantou-se decidida e disse em voz alta:
"Vamos embora! Há toda uma vida para explorar, tantas alegrias ainda para sentir e guardá-las preciosamente, dando o ânimo para ultrapassar as tristezas."
Acordou. Virou-se na cama, olhou para o relógio na mesinha de cabeceira e disse em voz alta:
"Vamos embora. Tenho esta vida para viver!"
- Maggs -

Monday, October 08, 2007

Tranquilidade

Feitas as escolhas
encaixaram-se as peças.

Ligeiro
se tornou o caminho.
Infinito
se tornou o querer.
As incertezas, porque as há,
fortalecendo as outras certezas,
que são as convicções.

Feitas estas escolhas,
estas aqui, não outras;
hesitações não poderiam existir
ao entrar por este caminho
e não por outro.


- Maggs -

Deixar Omaha

Baixa de Omaha


No dia 13 de Janeiro de 2007, cheguei a Omaha com duas malas e uma mochila às costas. No aeroporto, o meu chefe à minha espera com um papel com o meu nome e aqui descrevi o meu deslumbramento com a neve que na altura caía... Na semana passada, entreguei a minha carta de demissão e deixarei Omaha em finais de Novembro. Estou de partida para um outro estado, uma outra cidade, seguindo o meu chefe, procurando novos desafios.
Confesso que me vou embora sem ter conhecido verdadeiramente a cidade. Não o fiz, por falta de entusiasmo, de curiosidade e de algum espírito de aventura. De Omaha, conheço três supermercados, dois centros comerciais, a baixa da cidade - o meu local preferido -, o hospital onde trabalho e o sítio onde vivo.... Também conheço o jardim botânico de Omaha, onde roubei a alma a um hibisco vermelho.
Tento fazer um balanço destes praticamente dez meses que vou passar aqui e sinto que ficará a lembrança de pessoas muito afáveis. Cruzo na rua com pessoas que me são estranhas e elas sorriem, muitas vezes dizem "olá", outras chegando até a desejar "um feliz dia". Nas lojas, posso suspeitar desta simpatia, até porque vi casos extremos de sorrisos largos que me levavam a imaginar que chegada a noite, a pessoa já deitada e antes de desligar a luz do candeeiro, tirava o sorriso congelado, revelando uma expressão sem vida, para retomar no outro dia bem cedo aquela expressão de alegria encomendada. Não vou sentir saudades do facto desta cidade ser pequena - para os padrões norte-americanos - que o sistema de transportes público resume-se a autocarros que eu nunca usei. Não é uma cidade pensada para os peões ou para pessoas que, como eu, preferem usar os transportes públicos em vez de terem a sua própria viatura.
Sim, na lembrança sorrisos de pessoas afáveis tal como é o sorriso da Lynne, a senhora que trabalha na cafeteria onde todos os dias vou tomar o meu chá. Ela tem uma presença muito suave, um sorriso simpático mas de olhar distante - o que sempre me intrigou. Há cerca de um mês disse-me que era de Ohio mas que vivia em Omaha há vinte anos e que na véspera tinha visto familiares que não via desde que tinha deixado o estado de origem. Foi aí que eu compreendi o seu sorriso, o seu olhar e pensei que eu também devo ter esse olhar - o olhar de uma saudade prolongada e da expectativa de um reencontro sempre iminente.
E o Jeffrey? Também preciso falar sobre o Jeffrey. Ele trabalha na cantina onde costumo ir almoçar, registando os pedidos para o almoço. Mesmo levando a minha comida, cruzamo-nos sempre e cumprimentamo-nos. Na semana passada, fui comprar o almoço e ele olha para mim, de modo firme, dizendo: hoje, sou eu que te ofereço o almoço. Não quis aceitar mas tive de me render quando ele me mostrou senhas que precisavam ser usadas. Costuma dizer-me: tens um sorriso bonito. Mas o meu sorriso nada mais é do que o reflexo do sorriso que ele tem ao atender as pessoas. Um dia, ele contou a mim e a outra colega que tinha dois trabalhos, que estava a tirar um mestrado em psicologia e que esta profissão era o melhor sítio para ele apreender o comportamento humano, observando como as pessoas entram na cantina, o que escolhem, como falam, etc.
Há também o Robert, do centro de cálculo. O computador que eu uso para "a minha caça ao 1%" é muito temperamental, obrigando-me a ir inúmeras vezes ao centro de cálculo. O Robert é com quem me dou melhor porque está sempre lá quando apareço. Sempre tranquilo e de sorriso aberto. A senhora da recepção, se demoro algum tempo sem aparecer, diz, mal abro a porta: "Já estava a estranhar a sua ausência. Seja bem-vinda!".
Sim, levo daqui muitos sorrisos atenciosos e tranquilos. E é isso que vou colocar na minha bagagem de memórias com a etiqueta "Omaha, Nebraska, USA".
- Maggs -

Sunday, October 07, 2007

Amanhecer em NY

vista do 31º andar do Millennium UN Hotel
Oiço, frequentemente, dizer que "Deus escreve direito por linhas tortas". Também já ouvi a expressão "Quem desdenha quer comprar". Depois de um fim de semana em NY, começo a acreditar que o meu "exílio" em Omaha deve-se ao facto de um dia ter desdenhado a cidade que nunca dorme.
Passei cerca de cinco horas de uma noite do mês de Abril de 2003 na Little Italy, com um grupo de colegas. Estávamos num workshop em Filadélfia e decidimos ir jantar a NY. Provavelmente, por estar saturada de metrópoles, onde muitas vezes se torna impossível ouvirmo-nos a pensar, odiei a experiência. Odiei aquele alcatrão, o cimento, as ruas sujas, a multidão.
O que dizer deste fim de semana em NY? Qual pessoa que esteve desterrada num lugar inóspito, senti uma alegria imensa com aquele rebuliço e nem a agressidade da condução automóvel me irritou. Que prazer caminhar por ruas cheias de pessoas - cheias de histórias pessoais -. Ouvir excelente música numa estação de metro ou no Central Park - simplesmente, parando, saboreando a música e depois continuar a explorar a cidade. Ir ouvir jazz no Blue Note e simplesmente sentir-me sedenta de novos sons. A artista dessa noite, Rachelle Ferrell, foi estrondosa e a sua risada contagiante - desculpando-se com o jetlag porque a banda tinha chegado de Tóquio - foi inesquecível.
Mas, para mim, o amanhecer em NY é que vai perdurar por muito, muito tempo na minha memória. Tive a sorte e o privilégio de ficar num 31º andar do Millennium UN Hotel, defronte ao edifício das Nações Unidas, permitindo uma vista fantástica da cidade. Quando cheguei ao quarto, na primeira noite, já estava escuro. Ao abrir a porta do quarto, fui por um longo corredor até chegar ao quarto propriamente dito e que visão... janelas enormes, mostravam-me as luzes da cidade. Não tive a coragem de baixar as persianas. O meu quarto estava virado para leste, por isso, era sempre acordada pelos primeiros raios de sol. Ainda sonolenta, levantava-me e ficava à janela um bocado e depois voltava à cama e dormia por mais um bocado, apesar do sol me bater de frente no rosto - mas era isso mesmo que eu queria. Não é o girassol a minha flor favorita?

Há ainda uma outra expressão "Nunca digas desta água não beberei". Desta vez, fui beber à fonte certa e conto ir lá mais vezes saciar a sede.

Friday, October 05, 2007

A dança da vida

Peguei naquele vestido.
Naquele especial.
Único.

Rindo e brincando
com as ondas,
descalça, na areia molhada.

Rodopiando, sem fim
Flutuando, com alegria
chegando ao meu âmago
transportada por brancas nuvens.

Onde
não há hesitações,
não há contradições,
somente
um longo maravilhamento
por sentir a vida a irromper em mim.


- Maggs -

Curiosidades... (III)

Estou a pensar seriamente em montar uma empresa que faça cartões de visita.
Onde costumo ir almoçar, o espaço está dividido em duas partes: uma para os "pobres" que ou levam comida de casa ou vão ao bar e outra para os "ricos" que ficam à parte e que têm direito a empregado de mesa, toalha e guardanapo de pano. Mas, os "ricos" comem o mesmo que os "pobres" que frequentam o bar. A comida é a mesma, contudo em vez de serem servidos em pratos e talheres de plástico, eles podem degustar o almoço com pratos e talheres à séria.
Hoje, ao almoço, observei um grupo de seis homens à porta da secção dos "ricos", à espera de serem conduzidos a uma mesa. Eles abriram as suas caixas de cartões de visita e começaram a trocar entre eles os cartões, tal como as crianças fazem quando estão a trocar cromos. Ou seja, antes de "quebrarem o gelo" com aquela conversa de circunstância, começaram logo a trocar os cartões não fosse o negócio correr mal e depois não se proporcionar o ambiente para a tal troca de cromos.
Bem... confesso que na semana passada, encomendei os meus cartões de visita. Mas os meus têm conchas do mar e ... se quero ir adiante com a ideia da empresa, decididamente, necessitarei de cartões de visita. E os meus têm conchas do mar!
- Maggs -

Thursday, October 04, 2007

Ponte

Devagarinho,
de mansinho,
uma pedra
a seguir outra
e outra
outra...

Peço
a ti,
a mim,
a nós
não sejamos irreflectidos.

Há tempo para
admirar o que nos rodeia
amadurecer os sentimentos
apreciar a chegada do momento.

Porque vai valer a pena
quando nos encontrarmos
a meio da ponte.


- Maggs -

Curiosidades... (II)

O telemóvel é praticamente um bem de primeira necessidade aqui. E observo com espanto que o uso do telemóvel sem recurso ao modo altifalante ou algo parecido durante a condução é prática corrente. Não me parecem preocupados nem com a possibilidade de um acidente por distracção nem com a conta telefónica.
Estando "mal habituada" aos padrões europeus (e penso que não seja só na Europa) onde só pago pelas chamadas que efectuo e pelas mensagens escritas que envio, não considerando o roaming, ando "nervosa" com a utilização do meu telemóvel aqui. Aqui, paga-se pela chamada que se faz, pela chamada que se recebe, pela mensagem que se envia e pela mensagem que se recebe. Por isso, só atendo as chamadas das pessoas que consigo identificar mas fico frustrada por receber mensagens de pessoas que não conheço e pagar por uma informação que não me diz respeito, tal como uma que recebi de um homem a dizer à namorada/mulher que se tinha demitido mas que o seguro de saúde para a criança estava assegurado. Isto num país onde sem um seguro de saúde está-se em apuros, acredito que seja uma excelente notícia mas... dispensava pagar por esta informação.
- Maggs -

Curiosidades... (I)

Ao habitual aviso de "proibido fumar" à entrada dos edifícios, pelo menos aqui em Omaha junta-se um outro... o desenho de uma arma de fogo e o símbolo de proibido por cima...
Para mim, o mais caricato foi ver esse aviso de proibição de porte de arma de fogo à entrada do parque de estacionamento de uma grande empresa de produtos alimentares, na baixa da cidade. Lembrei-me logo dos filmes de cowboys onde eles eram obrigados a deixar as armas antes de entrarem no saloon. Consigo até imaginar uma pessoa a deixar a arma à porta do parque a um marshal imaginário...
- Maggs -

Monday, October 01, 2007

Fome de viver

"Anseio abarcar, incluir na minha vida curta, tudo o que é acessível ao homem. Anseio falar, ler, manejar um martelo numa grande fábrica, ser vigia no mar, arar. Quero andar pela avenida Nevsky [em S. Petersburgo], ou nos campos abertos, ou nos oceanos - onde quer que a minha imaginação se estenda."

Anton Tchekov
Anton Tchekov e Leão Tolstoy, em Ialta, Crimeia

Avidez

Há um pulsar
insistente
aflitivo, muitas vezes.

Há uma voz
várias vozes, na verdade
em uníssono
em desacordo, muitas vezes.

Há uma vontade,
permanente,
hesitante, poucas vezes.

Há tanta comoção.
Há tanta contradição.
Há tanta determinação.

É simples:
Há sofreguidão de viver!

- Maggs -

As cores

Sussuram por aí
que o céu é azul
que o mar também é azul.

Há vermelho no céu.
Há verde no mar.
Há uma infinidade de tons
nesta vida que se desenrola,
nada mais sendo do que cambiantes
do nosso estado de alma.

- Maggs -