Wednesday, March 21, 2007

Conta no banco


Quando abri a conta no banco, a simpática senhora falou-me da grande novidade, i.e. da possibilidade de eu aceder à minha conta do banco através da internet e ... de graça! Eu, ainda deslumbrada pela facilidade que foi abrir a conta, fiz o meu papel de cliente muito agradada com todas as vantagens que iria usufruir por passar a pertencer ao seu banco. Bem... assim que tive internet em casa, decidi aceder à minha conta e 'conhecer os cantos à casa'. Nessa minha ânsia de exploração da página da internet do banco, tive a habilidade de enviar a mim própria um cheque de 100 dólares (vá lá, não coloquei mais zeros....). Uns dias depois recebo, em casa, o famoso cheque passado em meu nome. Ainda hoje estou para perceber a vantagem disto... tenho de perguntar a um 'nativo' destas paragens. Bem, depois lá fui eu novamente ao banco depositar os 100 dólares. Evidentemente, o meu olhar era seguro e a minha expressão era a de alguém que tinha propositadamente enviado um cheque a si própria e que tinha depois decidido ir depositá-lo.
- Maggs -

As minhas saudades

Desde que tenho internet, mal chego a casa, ainda na luta de tirar sapatos, mala e casaco, ligo o portátil para ouvir uma qualquer estação de rádio de Cabo Verde. E estando aqui na diáspora, como me apraz ainda mais ouvir falar crioulo...
Pois é, desde que tenho internet em casa, hoje a CVT deixou-me, pela primeira vez, pendurada e o silêncio incomoda-me porque apetece-me ouvir as vozes anónimas que telefonam para a rádio e falam do seu dia-a-dia. Esses telefonemas fazem-me rir, chorar - fazem-me companhia porque não quero ter televisão em casa.
Estar longe das pessoas que mais gosto, dos lugares que me são familiares e que aprendi a apreciar, faz-me valorizar o mais pequeno pormenor e como sinto a falta de ouvir crioulo porque o seu som, o seu tom, as suas expressões características levam-me de volta às minhas raizes.
Na língua portuguesa, a palavra 'saudade' é das minhas preferidas porque relaciono com tudo o que é mais importante para mim e que me faz falta.
Por isso, tenho saudades:
- do olhar atento e penetrante do Chico-Pai;
- da alegria imensa da Maguy-Mãe;
- de atravessar o jardim Gulbenkian a caminho do LIP e observar a vida a acontecer perante mim;
- de dar as minhas caminhadas sem me sentir intimidada pelo olhar reprovador dos automobilistas (é que aqui quem anda a pé é pobre!)
- peixe, peixe, peixe, seja ele cozido, grelhado ou no forno;
- das gargalhadas soltas durante um excelente convívio com os amigos;
- de uma conversa agradável, acompanhada por uma bela garrafa de vinho tinto;
- dos meus CDs;
Enfim, de tudo o que me define e que faz parte da minha vida.
Mas a vida continua e ontem comi um peixe que nunca tinha comido na minha vida: mahi mahi (sim, é esse o nome). Gostei muito porque tem um sabor distinto e forte, ao contrário do bacalhau fresco que é das poucas alternativas que tenho por aqui.
E pensando nos amigos que fiz em Inglaterra, tenho a certeza que quando chegar a hora de deixar esta cidade, terei feito novos e bons amigos e assim serei uma verdadeira cidadã do mundo porque os meus melhores amigos estarão espalhados pelos quatro cantos do mundo.... Bem, se levar isto literalmente, vou ter de começar a pensar em ir passar uma temporada na Austrália!
- Maggs -

Monday, March 19, 2007

Conta no banco

Quando fui fazer o doutoramento a Inglaterra, lembro-me ainda perfeitamente da dificuldade que tive para abrir uma conta no banco. O João e eu percorremos a bela high street de Sutton e, se não me falha a memória, só na quarta tentativa é que consegui ter uma conta no banco. Apesar de ter comigo o meu primeiro salário e uma carta a dizer que tinha um contrato com o Institute of Cancer Research por três anos, eles mostravam-se irredutíveis. Não tinham nenhuma informação sobre mim. Mas no banco que consegui abrir a conta, ofereceram-me um cheque de 20£ para gastar na livraria Waterstones!
Por isso, quando me dirigi ao banco aconselhado pelo secretário do departamento onde estou a trabalhar, confesso que ía já mentalizada para a lenga-lenga de não terem nenhuma informação sobre mim, etc, etc. Mas qual não foi o meu espanto porque não só fui muito bem atendida (bem, aqui, à partida, atendem sempre bem ... com excepção dos serviços públicos, obviamente!) como também ganhei vários bónus. E o enorme sorriso estampado na face da senhora que me atendia como se me estivesse a dar uma prenda única... bem, então os meus bónus foram: $5, na minha conta a prazo porque tinha aberto a conta com eles; $10, na minha conta a ordem quando o meu primeiro salário fosse transferido automaticamente para a minha conta (tenho a impressão que a transferência automática do empregador para o banco é uma 'novidade' por estas paragens!) e $10 quando levasse o meu cartão de identificação do hospital para ser activado para funcionar como cartão multibanco nas lojas e cantinas do hospital. Evidentemente, o meu cartão de identificação já está como cartão multibanco!
- Maggs -

Sunday, March 18, 2007

Os meus óculos Dior

Na semana que cheguei, ainda a adaptar-me ao modo de viver americano... isto tudo são desculpas para dizer que sim, eu fui a um McDonald's nas minhas primeiras semanas aqui. É o fast-food mais próximo do meu castelo imperial. Bem, entrando na questão propriamente dita:

Acho que foi na minha segunda ida ao McDonald's. Quando se compra o menú, dão-nos o copo e nós é que enchemos (e voltamos a encher e voltamos a encher) com a bebida da nossa escolha. Bem, estava eu concentrada a encher o meu copo com coca-cola quando um rapaz ao meu lado diz 'óculos engraçados. É preciso receita para comprá-lo?'. Olhei para ele e ele estava a olhar para o copo dele e a enchê-lo com a sua bebida. Como ele não olhou para mim, pensei, 'isto não é para mim'. Continuei a encher o meu copo de coca-cola. Depois, quando estou a colocar ketchup num copito, ele volta a dizer a mesma coisa e eu volto a olhar para ele e ele não olha para mim. Voltei a pensar 'isto não é para mim'. Finalmente, ele olha para mim e com um sorriso enorme diz-me assim: 'esses óculos são lindos! Dão-te um estilo à Ray Ban'. Eu que estava ainda a aterrar em Omaha e ao falar americano, não resisti, sorri de volta e agradeci. Achei o episódio tão simpático e conto-o agora porque não foi cantada. Foi simplesmente uma pessoa que gostou de algo noutra pessoa e disse-o.

Há dias, fui à farmácia do hospital. Eu estava a conversar com um dos técnicos quando noto que uma senhora, por detrás do balcão a preparar os medicamentos, olha para mim fixamente. Fixei o olhar nela e ela, com um largo sorriso, diz: 'adoro os teus óculos'. E eu agradeci! Esta é uma característica dos locais que aprecio bastante - são muito simpáticos e afáveis.

- Maggs -

Aviso

Este aviso de 'abrigo de furacões' encontra-se no bloco de apartamentos onde vivo. Contudo, em vez de ficar assustada ante a possibilidade de um furacão me levar a procurar abrigo por detrás dessa porta, sorrio sempre que passo por ela... É que consigo imaginar todo o bloco de apartamentos ser levado pelo ar e esta porta ficar de pé, inamovível e irredutível perante a intempérie... E por detrás dessa porta um grupo de pessoas assustadas!
O que me leva a imaginar este cenário é que eu consigo ouvir o meu vizinho do lado a abrir a porta do micro-ondas que se encontra na cozinha do apartamento dele! Consigo ouvir a sinfonia da máquina de roupa do meu vizinho de cima, consigo ouvir o meu outro vizinho do lado ao telefone que, por sinal, é poliglota porque já o ouvi a falar francês para além do inglês. Em suma, este bloco de apartamentos, apesar de ser muito bonito e agradável, não é muito robusto. As paredes que separam as várias divisões devem ter a espessura de uma folha de papel...
- Maggs -

Em demanda de um número de segurança social

A questão do número de segurança social é ainda um tema muito delicado para mim. A importância desses nove números na sociedade americana é assustadora. E eu fiquei em estado de choque quando a minha vida aqui se tornou dependente desses benditos nove números e ainda hoje reclamo sempre que se fala sobre o número de segurança social ou fico logo de má cara se nalguma loja me pedem esse número. Bem... o melhor é eu começar pelo princípio.

Na semana que cheguei, uma das minhas principais preocupações era instalar um serviço de internet no apartamento onde ficaria a viver. Por isso, fiquei pasma quando na loja me pedem o número de segurança social e a carta de condução - hei-de 'desabafar' para a próxima sobre a condução aqui! - Bem a questão da carta de condução ficou resolvida porque mostrei o meu passaporte mas o número de segurança social era fundamental.... Em suma, é através deste número que conseguem aceder ao historial de crédito de uma pessoa. Por isso, nada feito! A simpatia do lojista desapareceu. Melhor, o sorriso 'colgate' desapareceu por completo e para ele, sem um número de segurança social ou alguém que pudesse 'responsabilizar-se' por mim nada feito... A não ser que deixasse um depósito de 800 dólares que só poderia levantar passado um ano e no caso de me portar bem, i.e. pagar sempre a tempo e horas. Finalmente, obtenho o famoso cartão com os nove números milagrosos e procuro outra empresa para ter internet em casa. Voltámos a lenga-lenga de eu não ter historial de crédito mas só me pedem 75 dólares de depósito. Escusado será dizer que já está na minha agenda: Fevereiro de 2008 - telefonar à Cox e pedir o meu dinheiro, independentemente do local geográfico onde esteja!!!!

Em Portugal, habitualmente, temos connosco o BI, o cartão de contribuinte, etc... Mas aqui, devo correr o risco de ir presa se me apanharem com o meu próprio cartão de segurança social na minha carteira. É que o cartão deve ser guardado num local seguro. Agora, com a minha péssima memória, não sei como vai ser decorar esses noves números até porque nós não morremos de amores um pelo outro!

- Maggs -