Monday, June 23, 2008
Lição de amor
Tuesday, June 10, 2008
Náufragos...
Ontem, fez um mês que cheguei aos Estados Unidos. Estou em Detroit há três semanas e comecei a trabalhar há uma. Com o meu regresso a Detroit, reencontrei o Said que já se interrogava sobre o meu paradeiro visto ter-lhe dito que regressaria em Janeiro e que lhe telefonaria para ele ir buscar-me ao aeroporto. Através dele, tenho conhecido outros árabes africanos, para além de ir-me cruzando com os clientes dele, de passagem por Detroit ou residentes como eu. As minhas conversas com ele e com os seus amigos árabes são tranquilas, sem pressas. Em comum, o facto de sermos de origem africana e emigrantes.
A minha vivência fica mais prenhe, mais rica e aprendo muito mais sobre como levar uma existência mais plena conversando com estas pessoas, indo assim ao encontro do ancião sentado à porta da sua casa feita de pedra e contemplar com ele a natureza. Pressinto que quanto mais conhecimentos adquiro mais me afasto do verdadeiro sentido da existência humana. Talvez seja por isso que os textos de Leão Tolstoy repercutam tanto dentro de mim, proporcionando-me a tranquilidade almejada. Após os sucessos estrondosos das obras Guerra & Paz e Ana Karenina, Tolstoy, até à sua morte, voltou-se para a sabedoria popular e para a busca incessante sobre o sentido da vida. Os diálogos sobre o nosso quotidiano são em inglês, uma língua estranha para todos nós por não ser a nossa língua materna e que se torna muitas vezes insuficiente para exteriorizarmos o nosso estado de alma. Contudo, eles ficam enriquecidos por olhares brilhantes e gestos de agradecimento e de apreciação, tornando-nos mais próximos porque, na verdade, somos todos náufragos.
Independentemente dos motivos que levaram cada um de nós a partir, a deixar a Pátria-amada, e a encontramo-nos aqui em Detroit, para nós terra alheia, somos náufragos porque seremos sempre sobreviventes ... convictos de termos sido impiedosamente arrancados do nosso ninho - das referências que dão sentido à nossa vida.
Friday, May 30, 2008
Marulhar das ondas
George Bailey
Monday, May 26, 2008
Objectos de afecto
Friday, May 16, 2008
Prosperidade
Wednesday, May 14, 2008
Farol
Monday, May 12, 2008
A partida
Sunday, April 20, 2008
Andorinha di Bolta
Ná, Ó Menino Ná...
Sãozinha - Andorinha di Bolta
Ná, Ó Menino Ná
Ó rosto doce de ojo maguado,
Es bo cudado
Botal pa traz!
Nhor Des ta dano um bida de paz,
Ó nha Pecado
De ojo maguado!
Ná, ó menino ná,
Sombra rum fugi de li!
Ná, ó menino ná,
Dixa nha fijo dormi...
Sono de bida, sonho de amor,
Ou graça ou dor,
Es é nós sorte...
Se Deus, más logo, mandano morte,
Quem que tem medo
Ta morrê cedo.
Toma nha ombro, encosta cabeça,
Ja’n dabo peto,
Amá ragaz!
Ó esprito doce, ca bo tem pressa:
Deta co geto,
Dormi na paz...
Saturday, April 19, 2008
Hora di Bai
Sãozinha - Sãozinha Canta Eugénio Tavares
Morna de Despedida
Hora de bai,
Hora de dor,
Ja’n q’ré
Pa el ca manchê!
De cada bêz
Que ‘n ta lembrâ,
Ma’n q’ré
Ficâ ‘n morrê!
Hora de bai,
Hora de dor!
Amor,
Dixa’n chorâ!
Corpo catibo,
Bá bo que é escrabo!
Ó alma bibo,
Quem que al lebabo?
Se bem é doce,
Bai é maguado;
Mas, se ca bado,
Ca ta birado!
Se no morrê
Na despedida,
Nhor Des na volta
Ta dano bida.
Dixam chorâ
Destino de home:
Es dor
Que ca tem nome:
Dor de crecheu,
Dor de sodade
De alguem
Que’n q’ré, que qu’rem...
Tuesday, April 15, 2008
Quase
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de heróis, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Mário de Sá Carneiro (1890-1916)
Monday, April 14, 2008
Friday, April 11, 2008
Bistidu ku florzinhas
Pelos caminhos que percorria, no seu bambolear lento, provocava danos. Os homens quedavam mudos, seguindo com os olhos aquela mulher cheia de vida e de promessas que nunca se cumpriam. As mulheres tentavam mostrar-se indiferentes, desejando que ela caísse finalmente em desgraça. "Essas mulheres acabam sempre da mesma maneira: grávidas de um conquistador fala-barato!".
Thursday, April 10, 2008
Expectativas
vivências sonhadas
momentos idealizados
alegrias partilhadas
sentimentos verdadeiros
respostas desejadas
encontros esperados
Aguardo por
instantes repletos de coisa nenhuma
- Maggs -
Adeus
Mas não o da despedida.
Que logro!
A ruptura em cada encontro.
Palavras pensadas, mas silenciadas.
Olhares esquivos, tão vivos.
Sentimentos omissos, ainda que intensos.
Chegada a hora da partida.
Que seja outrossim o da despedida.
- Maggs -
Tuesday, April 08, 2008
Infância
Monday, April 07, 2008
Tempo para...
Tempo para nascer e tempo para morrer.
Tempo para plantar e tempo para arrancar as plantas.
Tempo para matar e tempo para curar.
Tempo para destruir e tempo para construir.
Tempo para chorar e tempo para rir.
Tempo para gemer e tempo para bailar.
Tempo para atirar pedras e tempo para recolher pedras.
Tempo para abraçar e tempo para se separar.
Tempo para ganhar e tempo para perder.
Tempo para guardar e tempo para deitar fora.
Tempo para rasgar e tempo para coser.
Tempo para calar e tempo para falar.
Tempo para amar e tempo para odiar.
Tempo para a guerra e tempo para a paz.
Eclesiastes 3, 1-8
A minha história
Das fantasias, em particular
A minha alma a apoquentar.
Das frases fáceis
Ditas, ouvidas e sempre fúteis.
Das opções ligeiras
As frustrações recalcadas.
Viro a página e não abdico
Daquela que serei
Do mundo onde viverei.
- Maggs -
Sunday, April 06, 2008
Cântico negro
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cântico nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí!
José Régio (1899-1969)
Saturday, April 05, 2008
Exílio (II)
Na ida,
solta-se amarras
ganha-se asas.
Na volta,
O exílio que persevera
A estranheza que teima.
Idas e voltas...
Encontros, na falta
Desencontros, na presença.
- Maggs -
Mário de Sá Carneiro
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o outro.
Mário de Sá Carneiro (1890-1916)
Friday, April 04, 2008
Sunday, March 30, 2008
Friday, March 28, 2008
(Álvaro de Campos)
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas -
Essas e o que falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, tudo...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Com tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Não. Cansaço porquê?
É uma sensação abstracta
Da vida concreta -
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...
Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.
(Ai cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)
Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!...
Fernando Pessoa (1888-1935)
Wednesday, March 26, 2008
Absurdo...

Tuesday, March 25, 2008
Sem palavras
Tampouco das minhas expectativas.
Ou das minhas venturas.
Bem maiores, para vós, são as vossas.
Sempre, vossas palavras,
proferidas das vossas janelas!
Sem palavras, sem alardes
Aprendamos a escutar
O que não se consegue falar.
- Maggs -
Trocos...

Barcelona
Friday, March 21, 2008
Simplesmente... livre
murmurando o meu nome
Em Nada me transformando
não me embrenhando neles.
Porque insistem em prender-me?
invadindo o meu Eu
Em Nada me mantendo
não me libertando de vós.
Anseio partir para esses lugares
E, um dia, de livre vontade,
Nada serei...
Com uma vida simplesmente... livre.
- Maggs -
Monday, March 17, 2008
Viagens...

Sunday, March 16, 2008
Dilema
desfaço,
e refaço
...
os nós de um sentir
que me tem cativa.
invento emoções
recrio sensações
...
desejando não sentir
o que me tem cativa.
- Maggs -
"Pérolas de chuva" (IV)
Jacques Brel - Les bonbons (1967)
Je viens rechercher mes bonbons
Vois-tu Germaine j'ai eu trop mal
Quand tu m'as fait cette réflexion
Au sujet de mes cheveux longs
C'est la rupture bête et brutale
Je viens rechercher mes bonbons
Maintenant je suis un autre garçon
J'habite à l'hôtel George-V
J'ai perdu l'accent bruxellois
D'ailleurs plus personne n'a cet accent-là
Sauf Brel à la télévision
Je viens rechercher mes bonbons
Quand père m'agace moi
Je lui fais zop
Je traite ma mère de névropathe
Faut dire que père est vachement bath
Alors que mère est un peu snob
Mais enfin tout ça hein c'est le conflit des générations
Je viens rechercher mes bonbons
Et tous les samedis soir que je peux
Germaine j'écoute pousser mes cheveux
Je fais "glouglou" je fais "miam miam"
Je défile criant "Paix au Vietnam"
Parce qu'enfin enfin donc j'ai mes opinions
Je viens rechercher mes bonbons
Oh mais ça c'est votre jeune frère Mademoiselle Germaine
C'est celui qu'est flamingant
Je vous ai apporté des bonbons
Parce que les fleurs c'est périssable
Puis les bonbons c'est tellement bon
Bien que les fleurs soient plus présentables
Surtout quand elles sont en boutons
Je vous ai apporté des bonbons.
Saturday, March 15, 2008
Renúncia
sobre grandes amores.
Trouxe-te um quadro
com amantes enlaçados.
Trouxe-te uma carta
escrita por outrém.
Despojei-me dos receios.
Desta vez, tão só,
trouxe-te a minha pessoa.
- Maggs -
"Pérolas de chuva" (III)
Jacques Brel - Les bonbons (1964)
Je vous ai apporté des bonbons
Parce que les fleurs c'est périssable
Puis les bonbons c'est tellement bon
Bien que les fleurs soient plus présentables
Surtout quand elles sont en boutons
Mais je vous ai apporté des bonbons
J'espère qu'on pourra se promener
Que Madame votre mère ne dira rien
On ira voir passer les trains
A huit heures moi je vous ramènerai
Quel beau dimanche allez pour la saison
Je vous ai apporté des bonbons
Si vous saviez ce que je suis fier
De vous voir pendue à mon bras
Les gens me regardent de travers
Y en a même qui rient derrière moi
Le monde est plein de polissons
Je vous ai apporté des bonbons
Oh! oui! Germaine est moins bien que vous
Oh oui! Germaine elle est moins belle
C'est vrai que Germaine a des cheveux roux
C'est vrai que Germaine elle est cruelle
Ça vous avez mille fois raison
Je vous ai apporté des bonbons
Et nous voilà sur la grande place
Sur le kiosque on joue Mozart
Mais dites-moi que c'est par hasard
Qu'il y a là votre ami Léon
Si vous voulez que je cède la place
J'avais apporté des bonbons...
Mais bonjour Mademoiselle Germain
Je vous ai apporté des bonbons
Parce que les fleurs c'est périssable
Puis les bonbons c'est tellement bon
Bien que les fleurs soient plus présentables
Surtout quand elles sont en boutons
Allez je vous ai apporté des bonbons
Friday, March 14, 2008
Carta de alforria
- pungente, crua -
destemida me torno
e me desnudo
e me defronto
e me reconheço.
Nesta hora escura,
- serena, doce -
apaziguada me encontro
e me basto,
e me alegro
e me revejo.
Nesta hora escura,
- cristalina, autêntica -
sem pejos, declaro que
"aprendi a dizer não
naqueles instantes que
me negaram a mão."
- Maggs -
Sunday, March 09, 2008
Tempo para o amor - primeiro tempo
- De mãos dadas -
Recriei-te noutros corpos,
nada mais que repositórios
das minhas visões sobre ti.
Percorri outras terras,
crente que saía ao meu encontro
sem saber que buscava por ti.
Agora que estamos juntos,
- de mãos dadas -
- os dedos entrelaçados -
deixa-me confessar-te
que encontrei em ti
fragmentos de mim
porque em mim estão
fragmentos de ti.
fragmentos
perdidos num dia igual a este
feito de chuva e de lágrimas
- Maggs -
Wednesday, January 09, 2008
Hábitos
chamo por ti.
Às vezes, com urgência
outras, por hábito mesmo.
Por hábito,
espero por ti.
Nesta espera,
feita de hábitos,
até me esqueço
que por ti espero.
Por hábito,
chamo por ti.
Às vezes, com saudades
outras, por hábito mesmo.
Quiçá, já não sinta a tua ausência
neste hábito de sussurar o teu nome,
numa prece,
numa carícia,
numa alegria.
Acaso, por hábito,
não chamarás tu por mim?
- Maggs -
Ousadia
Vivemos frustrações,
Hesitamos opções.
Insistimos nas emoções
- que não são as nossas.
Permanecemos nos percursos
- que não são os nossos.
Nesta nudez crua,
mergulhados,
sufocados,
vazios.
Paremos aqui!
sejamos autênticos.
sejamos impetuosos.
sejamos honestos.
- Maggs -
Sunday, January 06, 2008
Tempos
Quando é o tempo da ousadia
Porque te ocultas
Quando é o tempo de te expores
Porque questionas
Quando é o tempo da acção
Porque te negas
Quando é o tempo de te assumires
Este instante é o teu tempo!
- Maggs -
Escavação
Divago por mim mesmo a procurar,
Desço-me todo, em vão, sem nada achar,
E minh'alma perdida não repousa!
Nada tendo, decido-me a criar:
Brando a espada: sou luz harmoniosa
E chama genial que tudo ousa
Unicamente à força de sonhar...
Mas a vitória fulva esvai-se logo...
E cinzas, cinzas só, em vez de fogo...
- Onde existo que não existo em mim?
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Um cemitério falso, sem ossadas,
Noites d'amor sem bocas esmagadas -
Tudo outro espasmo que princípio ou fim...
Mário de Sá Carneiro (1890-1916)
Saturday, January 05, 2008
"Pérolas de chuva" (II)
Gérard Depardieu, em Cyrano de Bergerac
Acto II, Cena VIII (uma parte)
CYRANO, LE BRET, LES CADETS, qui se sont attablés à droite et à gauche et auxquels on sert à boire et à manger
CYRANO, saluant d'un air goguenard ceux qui sortent sans oser le saluer
Messieurs... Messieurs... Messieurs...
LE BRET, désolé, redescendant, les bras au ciel
Ah ! dans quels jolis draps...
CYRANO
Oh ! toi ! tu vas grogner !
LE BRET
Enfin, tu conviendras
Qu'assassiner toujours la chance passagère,
Devient exagéré.
CYRANO
Eh bien oui, j'exagère !
LE BRET, triomphant
Ah !
CYRANO
Mais pour le principe, et pour l'exemple aussi,
Je trouve qu'il est bon d'exagérer ainsi.
LE BRET
Si tu laissais un peu ton âme mousquetaire,
La fortune et la gloire...
CYRANO
Et que faudrait-il faire ?
Chercher un protecteur puissant, prendre un patron,
Et comme un lierre obscur qui circonvient un tronc
Et s'en fait un tuteur en lui léchant l'écorce,
Grimper par ruse au lieu de s'élever par force ?
Non, merci ! Dédier, comme tous ils le font,
Des vers aux financiers ? se changer en bouffon
Dans l'espoir vil de voir, aux lèvres d'un ministre,
Naître un sourire, enfin, qui ne soit pas sinistre ?
Non, merci ! Déjeuner, chaque jour, d'un crapaud ?
Avoir un ventre usé par la marche ? une peau
Qui plus vite, à l'endroit des genoux, devient sale ?
Exécuter des tours de souplesse dorsale ?...
Non, merci ! D'une main flatter la chèvre au cou
Cependant que, de l'autre, on arrose le chou,
Et donneur de séné par désir de rhubarbe,
Avoir son encensoir, toujours, dans quelque barbe ?
Non, merci ! Se pousser de giron en giron,
Devenir un petit grand homme dans un rond,
Et naviguer, avec des madrigaux pour rames,
Et dans ses voiles des soupirs de vieilles dames ?
Non, merci ! Chez le bon éditeur de Sercy
Faire éditer ses vers en payant ? Non, merci !
S'aller faire nommer pape par les conciles
Que dans des cabarets tiennent des imbéciles ?
Non, merci ! Travailler à se construire un nom
Sur un sonnet, au lieu d'en faire d'autres ?
Non, Merci ! Ne découvrir du talent qu'aux mazettes ?
Être terrorisé par de vagues gazettes,
Et se dire sans cesse : "Oh ! pourvu que je sois
Dans les petits papiers du Mercure François" ?...
Non, merci ! Calculer, avoir peur, être blême,
Préférer faire une visite qu'un poème,
Rédiger des placets, se faire présenter ?
Non, merci ! non, merci ! non, merci ! Mais... chanter,
Rêver, rire, passer, être seul, être libre,
Avoir l'œil qui regarde bien, la voix qui vibre,
Mettre, quand il vous plaît, son feutre de travers,
Pour un oui, pour un non, se battre, - ou faire un vers !
Travailler sans souci de gloire ou de fortune,
À tel voyage, auquel on pense, dans la lune !
N'écrire jamais rien qui de soi ne sortît,
Et modeste d'ailleurs, se dire : mon petit,
Sois satisfait des fleurs, des fruits, même des feuilles,
Si c'est dans ton jardin à toi que tu les cueilles !
Puis, s'il advient d'un peu triompher, par hasard,
Ne pas être obligé d'en rien rendre à César,
Vis-à-vis de soi-même en garder le mérite,
Bref, dédaignant d'être le lierre parasite,
Lors même qu'on n'est pas le chêne ou le tilleul,
Ne pas monter bien haut, peut-être, mais tout seul !
Edmond Rostand
"Pérolas de chuva" (I)
Jacques Brel - Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le coeur du bonheur
Ne me quitte pas
Moi je t'offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu'après ma mort
Pour couvrir ton corps
D'or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l'amour sera roi
Où l'amour sera loi
Où tu seras reine
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Je t'inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants là
Qui ont vu deux fois
Leurs coeurs s'embraser
Je te raconterai
L'histoire de ce roi
Mort de n'avoir pas
Pu te rencontrer
Ne me quitte pas
On a vu souvent
Rejaillir le feu
D’un ancien volcan
Qu'on croyait trop vieux
Il est paraît-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s'épousent-ils pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Je ne vais plus pleurer
Je ne vais plus parler
Je me cacherai là
À te regarder
Danser et sourire
Et à t'écouter
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
Ne me quitte pas