Ontem, fez um mês que cheguei aos Estados Unidos. Estou em Detroit há três semanas e comecei a trabalhar há uma. Com o meu regresso a Detroit, reencontrei o Said que já se interrogava sobre o meu paradeiro visto ter-lhe dito que regressaria em Janeiro e que lhe telefonaria para ele ir buscar-me ao aeroporto. Através dele, tenho conhecido outros árabes africanos, para além de ir-me cruzando com os clientes dele, de passagem por Detroit ou residentes como eu. As minhas conversas com ele e com os seus amigos árabes são tranquilas, sem pressas. Em comum, o facto de sermos de origem africana e emigrantes.
A minha vivência fica mais prenhe, mais rica e aprendo muito mais sobre como levar uma existência mais plena conversando com estas pessoas, indo assim ao encontro do ancião sentado à porta da sua casa feita de pedra e contemplar com ele a natureza. Pressinto que quanto mais conhecimentos adquiro mais me afasto do verdadeiro sentido da existência humana. Talvez seja por isso que os textos de Leão Tolstoy repercutam tanto dentro de mim, proporcionando-me a tranquilidade almejada. Após os sucessos estrondosos das obras Guerra & Paz e Ana Karenina, Tolstoy, até à sua morte, voltou-se para a sabedoria popular e para a busca incessante sobre o sentido da vida. Os diálogos sobre o nosso quotidiano são em inglês, uma língua estranha para todos nós por não ser a nossa língua materna e que se torna muitas vezes insuficiente para exteriorizarmos o nosso estado de alma. Contudo, eles ficam enriquecidos por olhares brilhantes e gestos de agradecimento e de apreciação, tornando-nos mais próximos porque, na verdade, somos todos náufragos.
Independentemente dos motivos que levaram cada um de nós a partir, a deixar a Pátria-amada, e a encontramo-nos aqui em Detroit, para nós terra alheia, somos náufragos porque seremos sempre sobreviventes ... convictos de termos sido impiedosamente arrancados do nosso ninho - das referências que dão sentido à nossa vida.
7 comments:
minha querida.
arrancada do teu ninho podes sentir-te aqui mesmo de onde te falo. Basta que as tuas referências (físicas) te falhem e isso, como sabes, a vida tem...
Mas sobreviventes somos todos embora de guerras diferentes...
'bora aí amiga. Deita por fora o que tens dentro que é muito bonito. E que nos ajuda também na nossa sobrevivência. Um grande beijo de saudade.
Arega e Cª
Olá Arega & Cª,
Temos de ser sobreviventes, não é Amiga? É imperativo que o sejamos!
Senti-me arrancada do meu ninho quando estive aí... Nessa altura, tomaste conta de mim...
Obrigada por estares aí desse lado.
Muitas saudades,
Maggyzinha
Com tanta globalização...qual será o nosso ninho?
eu acho que é aonde podemos dar ás asas.
É lutar por nós e olhando sempre pelos os outros que nos rodeiam, sem atropelamentos.
bjo
Alguem em tempos escreveu:
"Nascida em França
Infância em Cabo Verde
Adolescência em Portugal
Maioridade em Portugal, Reino Unido,
Estados Unidos da América ...
Em suma: Sempre em viagem"
Para mim isto é longe de um naufrágio, mas sim alguem que sabe o quer, que sabe onde é o seu ninho, mas que apenas navega no sentido de o alcançar da melhor forma possivel...
E quem disse que navegar é fácil????
Não é fácil e requer grandes Capitaes... algeum como tu: que segue o seu barco no rumo da vida, com segurança e por entre temporais...
...pk quado se sobrevive a um temporal, pode-se dizer "Agora o sol brilha!!!"
beijo Maggs
Maça
... e só mais uma coisa: nao ando inspirada... a maioria das palavra do meu comment sao da própria bloguista...
...quem a conheçe, reconhece :)
Até já Maggs
Olá pp!
É bom ter-te de volta. :)
No fundo, somos feitos de hábitos...
Sim, sem atropelos porque a minha liberdade acaba onde começa a tua.
bjs!
Maggy
Maçã,
Como já sabes, por aqui é temporal hora sim, hora não... Lá vou (re)aprendendo a navegar por águas tumultuosas.
Até já... ;)
Bjs
Maggy
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