Gosto de ouvir "The Story", programa produzido pela rádio pública do estado da Carolina do Norte e apresentado por Dick Gordon. The Story dá a oportunidade a cidadãos anónimos contarem a sua história que pode ter sido uma experiência traumática, uma benção recebida, um reconhecimento público a alguém que faleceu e que se sente que é necessário prestar uma homenagem única. Evidentemente, facilmente este tipo de programa pode cair na devassa da vida íntima das pessoas mas Dick Gordon é o condutor ideal. Seja um tema doloroso, seja um acontecimento de júbilo, Dick Gordon mantem a mesma entoação segura, suave e curiosa no sentido de fazer com que o seu interlocutor fale à vontade, quiçá fazendo com que se esqueça que há um microfone à frente. Assim, estamos todos juntos: o(s) contador(es) da história, Dick Gordon e todos os ouvintes, que permanecem num silêncio cúmplice.
O que ouvi hoje incitou-me finalmente a escrever sobre o programa que já faz parte do meu fim de dia. Neste fim de semana, um casal da Carolina do Norte casou-se pela primeira vez na igreja para renovação dos votos efectuados há quarenta anos. Na altura, o casamento não pôde ter sido realizado dentro da igreja. Não vou entrar nos detalhes mas o que importa é esta lição de amor:
Omelia, negra, casou-se com Alvin, branco, nos idos anos de 1968. Quando Alvin comunicou aos seus pais a sua intenção - tinha ido sozinho visitá-los por altura do Natal - o pai levantou-se e saiu de casa, ficando a mãe e o filho sem trocarem palavra. Na cerimónia de casamento, só apareceram os familiares da Omelia. Quatro anos depois, quando nasceu o segundo filho do casal, o pai de Alvin telefonou-lhe a perguntar "Precisam de companhia?" ao que Alvin respondeu "Precisamos." Alvin, que estava no trabalho, telefonou à esposa e perguntou-lhe "Precisas de companhia?". Omelia percebeu o que se passava porque já tinha havido um telefonema para a casa, onde a sogra se identificara e pedira o telefone do trabalho do filho. Omelia e Alvin estiveram até às 3h da manhã a limpar a casa e ela depois levantou-se cedo para fazer comida para as visitas. Os pais de Alvin chegaram e as apresentações começaram. Omelia já tinha 3 filhas de um relacionamento anterior. Omelia disse a Dick Gordon que sentiu que tudo iria ficar bem quando a sogra pegou no recém-nascido. À pergunta do locutor se ela não pensou em "cobrar" pela recusa em conhecê-la desde o início, ela disse que tal não lhe passara pela cabeça porque o que interessava era que os pais do seu marido estavam aí e tudo o que tinha acontecido no passado... fazia parte do passado. Omelia acrescentou também que nunca se falou sobre o que se tinha passado e que somente muitos anos mais tarde... estava ela e o Alvin casados havia 25 anos quando o sogro lhe disse "Pensei que o casamento só fosse durar seis meses."
Hoje, o meu pai enviou-me um poema que escreveu onde diz "É o amor e não o tempo que cura tudo."... E foi o amor, não o tempo que reuniu esta família. Que lição de amor maior do que receber alguém de braços abertos, sem fel no coração por um sofrimento passado?
E hoje lembrei-me que os meus pais, o Chico-Pai e a Maguy-Mãe, vão fazer quarenta anos de casados e não poderei estar por perto para aquele abraço infindo... mas não me vou cansar de lhes repetir o quanto os amo e que um dos melhores ensinamentos que me deram foi o de assumir sempre as minhas responsabilidades.
6 comments:
Em relação ao programa da rádio, é sempre bom sermos ouvidos por alguém, a solidão assola este mundo, existem pessoas como eu que gostam de blogs, tem alguns em que sinto que me conhecem, sem eu nunca ter falado muito, é bom sentir-mos apoiados mesmo não conhecendo as pessoas, nem se trata de nos compreenderem é mais o saberem ouvir, sem querer saber razões ou pormenores, isso é um dom, se me permites gostaria de enviar também os meus sinceros parabéns aos teus progenitores.
bjo
Maggyzinha
Como sabes tenho aminha própria história de amor- que se tornou passado faz hoje exactamente 2 anos. Consegui fazer 22 anos de casada. Sei que conseguiria fazer 40 mas Alguém achou que não era preciso.
Forte abraço para os teus pais.
Um beijo
Arega e Cª
Olá pp,
Sim, é um dom saber ouvir.
Obrigada pelos parabéns aos meus pais!
Bj!
Arega & Cª
Não tenho a menor dúvida que chegariam aos 40. A menor dúvida.
Aquela saudade e aquele abraço... como aquele que demos quando nos encontrámos no Luso, em Janeiro.
Bom Ano 2009, espero que tudo esteja a correr pelo melhor, nunca mais li nada neste blog mas a presença mantém-se firme.
bjo tudo de bom :)
Olá PP!
Um Feliz 2009 para ti também!
Obrigada pela visita... Acho que foi o empurrão que precisava para recomeçar... :)
Beijos!
Maggy
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