Para os meus pais
Para a Arega & Cª
Inspirou vagarosamente. Não havia pressa. Não agora que tinha chegado aonde queria. Expirou, no mesmo ritmo, enquanto o olhar, na mesma cadência respiratória, percorria a paisagem que se desnudava perante ela. Era a natureza que se despia ou era ela que entrava na sua intimidade?
Devagarinho, baixou-se e sentou-se no chão, sentindo-se inebriada com o cheiro da terra-mãe, prenhe de vida. Sorriu, ao notar o estado das solas das suas botas. Estavam gastas! Que longa caminhada tinha sido essa!
Olhou para as suas mãos, tentando apreender a sua vida, o seu percurso até esse momento. Por força da imaginação, essas mãos transformaram-se nas mãos de uma menina:
"Em criança, o que é que eu queria ser quando fosse grande?"
"Sou o que sonhei para mim? Sei que pedi a mim própria estar sempre em transformação - nem que fosse na minha imaginação ou através dela. Não posso parar porque há ainda tanto para ver, para experimentar, para sentir..."
"Sou o que sonhei para mim? Sei que pedi a mim própria estar sempre em transformação - nem que fosse na minha imaginação ou através dela. Não posso parar porque há ainda tanto para ver, para experimentar, para sentir..."
As mãos tornaram-se transparentes e desapareceram porque ela agora estava no útero materno. O seu olhar permaneceu firme e inquisitivo no lugar onde as mãos de criança tinham estado momentos antes.
"E os meus pais? Porque eu iniciei a minha existência ainda antes de nascer, na imaginação deles. Sou o que eles sonharam para mim?"
"Eles ensinaram-me a voar, a continuar a caminhada quando a vontade é parar. Mostraram-me como aquietar esta sede de viver, que é eterna e intensa."
Esta caminhada ainda não tinha acabado. Na verdade, mal tinha começado.
Deitou-se de costas, as mãos - adultas e seguras - servindo de travesseiro e olhou para o céu azul e infinito. Cada olhar, um mundo diferente, uma interpretação própria.
"Será que um dia conseguirei ver a natureza tal qual ela é ou será sempre através do meu olhar, que é cheio de interpretações próprias? Enquanto sentir esta comunhão, a minha visão própria e particular da natureza não deverá estar longe da essência desta terra-mãe, tão prenhe de vida!"
Gargalhou e abriu os braços para o alto. Levantou-se decidida e disse em voz alta:
"Vamos embora! Há toda uma vida para explorar, tantas alegrias ainda para sentir e guardá-las preciosamente, dando o ânimo para ultrapassar as tristezas."
Acordou. Virou-se na cama, olhou para o relógio na mesinha de cabeceira e disse em voz alta:
"Vamos embora. Tenho esta vida para viver!"
- Maggs -
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