Saturday, October 27, 2007

Welcome to Detroit

Deixámos Omaha numa tarde cinzenta mas o sol brilhava quando aterrámos no aeroporto internacional de Detroit. Apanhámos um pequeno autocarro para podermos ir buscar o carro alugado. O motorista, senhor dos seus sessenta anos, olhar vivo e curioso, ajudou-nos a colocar a bagagem no autocarro e partimos. Éramos só dois passageiros - o meu chefe e eu. O motorista iniciou a conversa com a pergunta que ele devia repetir vezes sem conta no dia: "De onde vêm?" A resposta do meu chefe levou a que eles falassem sobre o futebol americano e eu calada permaneci. A conversa ía animada entre os dois discutindo futebol, falando sobre as diferenças entre Omaha e Detroit quando o meu chefe esclareceu que nós não éramos de Nebraska e que eu até era de Portugal. O motorista diz em inglês: "A única frase que sei em português é" - e diz em português - "Não sei falar português." Eu fiquei surpreendida, gargalhei e dei-lhe os parabéns. O meu chefe ficou igualmente impressionado. Depois, a conversa generalizou-se pelos três e falámos sobre os descobrimentos e sobre Portugal e Espanha. Este senhor dominava a geografia e a história de uma maneira que me deixou sem palavras. Mas depois ele confessou-nos que era reformado da marinha americana. Então, não resisti e decidi fazer-lhe o teste final: "E já ouviu falar nas Ilhas de Cabo Verde?" Ficou ofendido e disse-me orgulhosamente: "Fica na costa oeste de África!", acrescentando: "E conheço um excelente músico de origem cabo-verdiana que toca jazz!" Dizemos os dois em uníssono: "Horace Silver!" Rimo-nos e o meu chefe só dizia "Extraordinário!" O motorista acrescenta: "Eu sei o nome completo dele. É Horace Ward Martin Tavares Silva." Aí eu disse-lhe que os meus conhecimentos não íam tão longe. Sempre risonho, disse: "Afinal sei duas frases em português!", dizendo em português: "Não sei falar português" e "A canção do meu pai", fazendo referência ao tema que Horace Silver compôs em homenagem ao seu pai, cabo-verdiano de origem. Expliquei-lhe que os meus pais era cabo-verdianos mas que eu tinha nascido em França. Aí ele diz alto e bom som: "Devia casar-me consigo! É muito viajada." Chegámos ao local onde o meu chefe iria buscar o carro. Ajudou-nos novamente com a bagagem. Perguntou-me o meu nome, deu-me um firme aperto de mão e disse: "Eu sou o Robert." Igualmente, cumprimentou o meu chefe e nós agradecemos-lhe o inesquecível diálogo. Ficámos tão bem dispostos, tendo em conta que deixámos uma Omaha cinzenta e de chuva miudinha.
- Maggs -
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Conhecidos meus ao saberem que iria começar a trabalhar em Detroit, descreveram-me uma imagem muito má e não recomendável da cidade, retratando-me zonas de violência provocadas por negros. Este simpático, atencioso e culto motorista é um senhor negro e como me senti feliz que a minha primeira interacção com um nativo da cidade tenha sido assim. Evidentemente, todas as cidades têm o seu lado menos bom e o seu lado encantador. O importante é evitar ideias pré-concebidas para se tirar o melhor partido do que a vida nos proporciona.

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