Monday, June 23, 2008
Lição de amor
Tuesday, June 10, 2008
Náufragos...
Ontem, fez um mês que cheguei aos Estados Unidos. Estou em Detroit há três semanas e comecei a trabalhar há uma. Com o meu regresso a Detroit, reencontrei o Said que já se interrogava sobre o meu paradeiro visto ter-lhe dito que regressaria em Janeiro e que lhe telefonaria para ele ir buscar-me ao aeroporto. Através dele, tenho conhecido outros árabes africanos, para além de ir-me cruzando com os clientes dele, de passagem por Detroit ou residentes como eu. As minhas conversas com ele e com os seus amigos árabes são tranquilas, sem pressas. Em comum, o facto de sermos de origem africana e emigrantes.
A minha vivência fica mais prenhe, mais rica e aprendo muito mais sobre como levar uma existência mais plena conversando com estas pessoas, indo assim ao encontro do ancião sentado à porta da sua casa feita de pedra e contemplar com ele a natureza. Pressinto que quanto mais conhecimentos adquiro mais me afasto do verdadeiro sentido da existência humana. Talvez seja por isso que os textos de Leão Tolstoy repercutam tanto dentro de mim, proporcionando-me a tranquilidade almejada. Após os sucessos estrondosos das obras Guerra & Paz e Ana Karenina, Tolstoy, até à sua morte, voltou-se para a sabedoria popular e para a busca incessante sobre o sentido da vida. Os diálogos sobre o nosso quotidiano são em inglês, uma língua estranha para todos nós por não ser a nossa língua materna e que se torna muitas vezes insuficiente para exteriorizarmos o nosso estado de alma. Contudo, eles ficam enriquecidos por olhares brilhantes e gestos de agradecimento e de apreciação, tornando-nos mais próximos porque, na verdade, somos todos náufragos.
Independentemente dos motivos que levaram cada um de nós a partir, a deixar a Pátria-amada, e a encontramo-nos aqui em Detroit, para nós terra alheia, somos náufragos porque seremos sempre sobreviventes ... convictos de termos sido impiedosamente arrancados do nosso ninho - das referências que dão sentido à nossa vida.