Sunday, April 20, 2008
Andorinha di Bolta
Ná, Ó Menino Ná...
Sãozinha - Andorinha di Bolta
Ná, Ó Menino Ná
Ó rosto doce de ojo maguado,
Es bo cudado
Botal pa traz!
Nhor Des ta dano um bida de paz,
Ó nha Pecado
De ojo maguado!
Ná, ó menino ná,
Sombra rum fugi de li!
Ná, ó menino ná,
Dixa nha fijo dormi...
Sono de bida, sonho de amor,
Ou graça ou dor,
Es é nós sorte...
Se Deus, más logo, mandano morte,
Quem que tem medo
Ta morrê cedo.
Toma nha ombro, encosta cabeça,
Ja’n dabo peto,
Amá ragaz!
Ó esprito doce, ca bo tem pressa:
Deta co geto,
Dormi na paz...
Saturday, April 19, 2008
Hora di Bai
Sãozinha - Sãozinha Canta Eugénio Tavares
Morna de Despedida
Hora de bai,
Hora de dor,
Ja’n q’ré
Pa el ca manchê!
De cada bêz
Que ‘n ta lembrâ,
Ma’n q’ré
Ficâ ‘n morrê!
Hora de bai,
Hora de dor!
Amor,
Dixa’n chorâ!
Corpo catibo,
Bá bo que é escrabo!
Ó alma bibo,
Quem que al lebabo?
Se bem é doce,
Bai é maguado;
Mas, se ca bado,
Ca ta birado!
Se no morrê
Na despedida,
Nhor Des na volta
Ta dano bida.
Dixam chorâ
Destino de home:
Es dor
Que ca tem nome:
Dor de crecheu,
Dor de sodade
De alguem
Que’n q’ré, que qu’rem...
Tuesday, April 15, 2008
Quase
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de heróis, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Mário de Sá Carneiro (1890-1916)
Monday, April 14, 2008
Friday, April 11, 2008
Bistidu ku florzinhas
Pelos caminhos que percorria, no seu bambolear lento, provocava danos. Os homens quedavam mudos, seguindo com os olhos aquela mulher cheia de vida e de promessas que nunca se cumpriam. As mulheres tentavam mostrar-se indiferentes, desejando que ela caísse finalmente em desgraça. "Essas mulheres acabam sempre da mesma maneira: grávidas de um conquistador fala-barato!".
Thursday, April 10, 2008
Expectativas
vivências sonhadas
momentos idealizados
alegrias partilhadas
sentimentos verdadeiros
respostas desejadas
encontros esperados
Aguardo por
instantes repletos de coisa nenhuma
- Maggs -
Adeus
Mas não o da despedida.
Que logro!
A ruptura em cada encontro.
Palavras pensadas, mas silenciadas.
Olhares esquivos, tão vivos.
Sentimentos omissos, ainda que intensos.
Chegada a hora da partida.
Que seja outrossim o da despedida.
- Maggs -
Tuesday, April 08, 2008
Infância
Monday, April 07, 2008
Tempo para...
Tempo para nascer e tempo para morrer.
Tempo para plantar e tempo para arrancar as plantas.
Tempo para matar e tempo para curar.
Tempo para destruir e tempo para construir.
Tempo para chorar e tempo para rir.
Tempo para gemer e tempo para bailar.
Tempo para atirar pedras e tempo para recolher pedras.
Tempo para abraçar e tempo para se separar.
Tempo para ganhar e tempo para perder.
Tempo para guardar e tempo para deitar fora.
Tempo para rasgar e tempo para coser.
Tempo para calar e tempo para falar.
Tempo para amar e tempo para odiar.
Tempo para a guerra e tempo para a paz.
Eclesiastes 3, 1-8
A minha história
Das fantasias, em particular
A minha alma a apoquentar.
Das frases fáceis
Ditas, ouvidas e sempre fúteis.
Das opções ligeiras
As frustrações recalcadas.
Viro a página e não abdico
Daquela que serei
Do mundo onde viverei.
- Maggs -
Sunday, April 06, 2008
Cântico negro
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cântico nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí!
José Régio (1899-1969)
Saturday, April 05, 2008
Exílio (II)
Na ida,
solta-se amarras
ganha-se asas.
Na volta,
O exílio que persevera
A estranheza que teima.
Idas e voltas...
Encontros, na falta
Desencontros, na presença.
- Maggs -
Mário de Sá Carneiro
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o outro.
Mário de Sá Carneiro (1890-1916)